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Pai cria planilha para descontar da mesada desobediência dos filhos, por Joana Singer Vermes.

O G1 publicou em 10/10/2013 a reportagem: “Pai cria planilha para descontar da mesada desobediência dos filhos”. Segundo o portal, o caso refere-se a um ‘método educativo’ empregado por um pai, como forma de coibir comportamentos indesejados de seus filhos, tal como a desobediência. O fato gerou espantosa repercussão em redes sociais, tornando-se, segundo a matéria, uma “sensação” na internet.

Basta observar a quantidade de livros, revistas, reality shows e programas de rádio voltados para a relação entre pais e filhos para ficar claro que educar uma criança está entre as tarefas mais difíceis que se pode assumir ao longo da vida. É certo que pais buscam ensinar seus filhos, lançando mão de estratégias que consideram adequadas. Então, entre tapas, ameaças, castigos, promessas e planilhas, equívocos são cometidos – e não se pode simplesmente julgar: pais também estão constantemente aprendendo a ser pais.

O papel do psicólogo não é impor um “jeito certo” de se fazer, mas sim ajudar pessoas a encontrarem formas mais saudáveis de lidar com os desafios da vida. Em se tratando de educação, psicólogos orientados pela Análise do Comportamento vêm alertando há décadas sobre os malefícios da punição, que pode vir em forma de violência física, castigos e descontos na mesada. Qualquer leitor que procure um psicólogo analista do comportamento (também chamado terapeuta comportamental) jamais receberá como sugestão o uso de castigos na educação de filhos ou em qualquer relação humana. Pelo contrário, será alertado sobre os seus efeitos colaterais. O terapeuta procurará encontrar formas de valorizar atitudes saudáveis da criança, em contraposição a punir os comportamentos considerados indesejados.

Por deseconhecimento, desatualização, preconceito e formação de baixa qualidade, alguns psicólogos trazem, de forma irresponsável, informações absolutamente infundadas sobre o que é a Terapia Coportamental. Por isso, sem delongas, registramos aqui: a psicóloga Bruna Teberge está completamente equivocada. Bruna erra ao chamar a psicologia comportamental de estímulo resposta. Alguns comportamentos são explicados pela relação estímulo-resposta (como a reação de susto de uma pessoa diante de um assalto, por exemplo). Entretanto, os fenômenos humanos que mais interessam aos psicólogos exigem o entendimento de diversas relações envolvidas em um comportamento. Entender porque uma criança desobedece requer atenção ao contexto, o que inclui a análise de uma série de estímulos que colaboram para que a criança desobedeça.
A psicóloga Brena Teberge acerta em um ponto: é necessário avaliar como a criança recebe uma prática educativa na qual se castiga (por meio de retirada de mesada) os comportamentos indesejados. A proposta do pai tende a focar nas atitudes “ruins” dos filhos, mas não ensina condutas melhores. Além disso, ensina as crianças que se comportar adequadamente é importante apenas para não haver prejuízos financeiros e não porque a convivência familiar requer comportamentos colaborativos de todos. As consequências dessa estratégia a longo prazo podem ser nefastas. Por isso, qualquer analista do comportamento estaria completamente de acordo e, por isso, jamais proporia tal estratégia.

Joana Singer Vermes, psicóloga clínica, mestre em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento, sócio-diretora, professora, supervisora e coordenadora do Núcleo Paradigma de Análise do Comportamento.