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Nota de falecimento – Howard Rachlin

Fernanda Calixto, professora e supervisora no Paradigma – Centro de Ciências e Tecnologia Comportamental e psicoterapeuta no Instituto de Psicologia Baseada em Evidências (InPBe), escreveu algumas palavras em homenagem ao Prof. Howard Rachlin, falecido no início do mês de janeiro de 2021.

 Começamos o ano de 2021 com uma perda irreparável para a nossa área. Howard Rachlin, faleceu no começo de janeiro e é impossível não pensar que dificilmente teríamos avançado tanto cientificamente sobre a compreensão dos comportamentos de escolha, autocontrole e altruísmo sem sua contribuição científica exemplar.

Rachlin – que atuava como Professor Pesquisador Emérito na State University of New York at Stony Brook- nos propiciou os maravilhosos livros The Science of Self-Control e The Escape of the Mind que são um compilado de seus achados experimentais e análises conceituais construídos de forma tão robusta ao longo de sua carreira que culminaram na defesa de um Behaviorismo Teleológico.

Tenho a felicidade de dizer que o contato com sua produção foi o ponto principal que me permitiu (e ainda permite) estudar profundamente o Autocontrole ao longo de minha trajetória acadêmica e sua visão do fenômeno afeta diariamente de forma profunda minha pratica clínica.  A obra e os achados científicos de Rachlin nos presenteiam com modelos experimentais (da resposta de compromisso, por exemplo) sendo fundamental para o pesquisador de base, assim como fundamenta a compreensão de padrões relevantes clinicamente, como a dependência química e comportamental. Por meio de sua obra, podemos analisar porque é tão difícil escapar de reforçadores imediatos e se comportar sobre o controle de reforçadores atrasados. Entendemos porque procrastinamos tanto e porque muitas vezes agimos de forma tão impulsiva.  Adicionalmente, sua compreensão e defesa de uma análise funcional molar nos convida a analisar criticamente nossa definição de operante além de impactar diretamente nossa prática clínica, se constituindo em muitos casos uma ferramenta exemplar para a formulação de casos clínicos.

Rachlin manteve um diálogo aberto com a ciência cognitiva e o maior exemplo é desde fato foi ter sido um dos responsáveis por analisar o famoso estudo do marshmellow (Mischel, Ebbesen & Zeiss, 1972) à luz do behaviorismo. Sua colaboração constante com pesquisadores de influência máxima na análise do comportamento, como William M. Baum era uma demonstração constante de compromisso com a produção de dados e análise conceituais.

Ele deixa o mundo em um momento difícil para toda a área cientifica, mas sua história é um exemplo e um convite para que gerações futuras de analistas do comportamento continuem a produção científica em temas de relevância cientifica e social que nos ajudem a compreender os fatores que influenciam as nossas escolhas e deste modo, atuar no mundo de forma mais consciente, responsável e cooperativa.