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Cantinho do Castigo

Resposta para o texto escrito na Folha de São Paulo pela psicóloga Rosely Sayão sobre o uso do “cantinho do castigo” por pais e educadores.

Fiquei surpresa, com as colocações feitas pela conceituada psicóloga Rosely Sayão, publicada na Folha de São Paulo,em 24 de Setembro. Posso também imaginar, o quanto foram surpreendidos, pais, mães e educadores, que fazem uso do cantinho como forma de educar. Ao dispor de conhecimento sobre as pesquisas atualizadas, como os trabalhos de Skinner (1982), Barnes (1994); Markham et al (2002); Kohlenberg (2006) e outros, podemos compreender que o uso do “cantinho” envolve uma análise do comportamento complexo muito diferente de um simples condicionamento para cães.

Em geral a evolução da Ciência nos presenteia com o avanço do conhecimento e da compreensão sobre os fenômenos. Acompanhar as publicações de revistas científicas em psicologia faz com que o psicólogo amplie sua visão para entender a complexidade das interações sociais que ocorrem no dia a dia.

Compreender o uso do “cantinho”, onde pais e professores separam a criança de uma briga desgastante, interrompendo a situação aversiva, pode ser visto como mais um dos benefícios transpostos dos resultados de pesquisa para o reduto da escola e aconchego dos lares.

Há muitas situações em que a criança coloca o adulto em situações desconcertantes. E vice-versa. Ao ficar sem saber como agir, sobra aos pais a alternativa de extravasar sua raiva momentânea, sem pensar que efeito isso tem sobre o comportamento da criança.

Todos nós temos maior facilidade em reproduzir com o outro, muitos dos comportamentos de nossos pais, que tínhamos como modelo, mesmo que não nos agrade exibir tal repertório comportamental. Pais e professores fazem grande esforço para tentar mudar sua forma de agir com a criança. E todos agradecem.

O uso do “cantinho” instrumentalizou pais e professores com melhores formas de intervenção, fundamentada nas pesquisas sobre análise do comportamento (Skinner, 1982, Sidman, 2003). Ao invés de gritar com a criança, ela será afastada temporariamente da situação, tendo qualquer reforçamento suspenso (time-out) e muito mais. Estamos auxiliando a criança no controle da impulsividade. Estamos mostrando a ela que há outras maneiras de resolver conflitos. E não pára por aí.

Alguns minutos após sair do “cantinho”, ou de qualquer situação na qual a criança não esteja recebendo nenhum tipo de atenção, pais e professores são orientados a conversar com a criança, quando todos estão de “cabeça fria”. A criança será ensinada a descobrir um outro jeito de enfrentar a mesma situação. Ao fazer essa descoberta a criança está sendo ensinada a respeitar o outro, o que desencadeia um novo processo em direção ao desenvolvimento do autocontrole.

Retirou-se a criança de uma situação aversiva e foi entregue a ela uma situação neutra, que favorece a volta à calma. O cantinho ajuda tanto a criança como os adultos a se acalmarem numa situação de conflito, pois a situação neutra é para todos.

Este efeito de voltar à calma, mais rapidamente, é provavelmente o que tornou essa prática tão difundida e aprovada. Esse efeito não é temporário uma vez que produz uma importante mudança na forma com que a criança passa a lidar com situações conflitantes. E essa aprendizagem não tem volta. É irreversível.

Barnes, D.(1994). Stimulus equivalence and relational frame theory. The Psychological Record, 44, 91 –124.

Markham, M.R.; Dougher, M.J.; Augustson, E.M. (2002). Transfer of operant discrimination and respondent elicitation via emergent relations of compound stimuli. The Psychological Record, 52, 325-350.

Artigo escrito pela Dra. Jaide Regra, à pedido da ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICLOGIA E MEDICINA COMPORTAMENTAL.

Denise Vilas Boas
Vice-presidente da ABPMC