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Nota da ABPMC sobre a proposta de criar nova associação de Análise do comportamento no Brasil

Caros associados e amigos,

Na última semana a diretoria da ABPMC foi surpreendida ao ser informada de uma proposta de criação de uma nova associação de Análise do comportamento no Brasil. Como representante da comunidade de analistas do comportamento no Brasil por mais de duas décadas e por ter sido explicitamente citada pelos proponentes da referida associação, a diretoria da ABPMC julgou necessário pronunciar-se publicamente a respeito.

Convém ressaltar que nossas colocações são dirigidas à proposta e não aos proponentes da associação, que são analistas do comportamento veteranos, com grandes contribuições para a área, e pelos quais a atual diretoria da ABPMC tem grande apreço, respeito e gratidão.

O direito de os associados se manifestarem publicamente, de forma respeitosa e democrática é uma prerrogativa inquestionável. No caso aqui discutido a ABPMC não é, a priori, contra a formação de outras associações científicas ou profissionais, mas queremos discutir e argumentar que esta não parece ser, no presente momento, a melhor forma de promover e fortalecer a Análise do Comportamento no Brasil.

Diante do que vem sendo debatido nas redes sociais e nas trocas de e-mails entre sócios da ABPMC, apresentamos a seguir alguns dos pontos que julgamos relevantes discutir de forma ampla, aberta, honesta, diversa. E o XXII Encontro da ABPMC, em setembro, em Fortaleza, será o fórum privilegiado para discutir problemas e desafios da ABPMC, bem como para analisar as implicações que uma nova associação de analistas do comportamento traria para nossa associação. Para nos preparar para a referida discussão, propomos uma reflexão sobre os questionamentos a seguir.

1) Os analistas do comportamento sentem-se adequadamente representados pela ABPMC?

2) A ABPMC deve ser composta por um perfil específico de behaviorista que compartilhe apenas “práticas verbais analítico comportamentais “?

3) Interessa para a nossa associação debater propostas conceituais e terapêuticas próximas, mas nem sempre convergentes com o modelo analítico-comportamental ou isso a descaracteriza como uma entidade representativa dos analistas do comportamento?

4) A criação de uma nova associação colabora positiva ou negativamente para a representatividade dos analistas do comportamento frente a outras comunidades cientificas, órgãos de fomento e sociedade em geral?

Que fique registrado desde já que a atual diretoria da ABPMC discorda radicalmente da afirmação de proponentes da nova associação de que analistas do comportamento brasileiros não tiveram até o momento uma representação própria. São vastos os exemplos que evidenciam a ABPMC como uma instituição legitimamente representativa da comunidade de analistas do comportamento do Brasil nos 22 anos de sua história. Para citar apenas alguns desses exemplos, lembramos que a ABPMC tem representado analistas do comportamento em associações/eventos científicos da Psicologia e junto a outras comunidades científicas, tais como a SBPC, SBP, CRP.

Convém lembrar, como ressaltaram nossos colegas Roberto Banaco e Silvio Botomé, que a ABPMC substituiu a Associação Brasileira de Análise do Comportamento (ABAC), que foi esvaziada porque, na época, “ninguém, que tivesse força ou representatividade política, ou conhecimento do funcionamento da instituição, quis tocá-la para a frente”. Com sua dissolução, voltaram os grupos menores e isolados de pesquisadores ou terapeutas comportamentais buscando um modelo de intervenção terapêutica coerente com o modelo comportamental (como era chamado até então), mas perdendo a oportunidade de interagirem e de trocarem experiências. Tal isolamento durou de 1989 a 1991.

Desde sua fundação, levada a cabo por Bernard Rangé, Hélio Guilhardi e Roberto Gorayeb, a cara da ABPMC é plural. Naquela época não havia uma preocupação maior em restringir a participação de quem se interessava por pesquisar, exercer a profissão ou simplesmente conhecer mais a Análise do comportamento. O espírito da ABPMC (quase) sempre foi de acolher para agregar, visando se tornar uma entidade que tivesse uma atuação importante no cenário acadêmico e profissional da Psicologia, no Brasil.

De 91 para cá a ABPMC se tornou a associação com o maior número de associados fora dos EUA. Hoje ela é composta, em sua maioria, por analistas do comportamento que atuam em diferentes áreas de interesse, mas não rejeita a participação de terapeutas cognitivo-comportamentais ou de contextualistas na discussão sobre temas pertinentes ao comportamento. Lutamos para que nossos colegas encontrem na ABPMC um espaço para discussão e debate de suas ideias e não entendemos que isto possa fragilizar nossa associação. Talvez este seja o ponto em que mais claramente estejam apontadas as diferenças entre a ABPMC e a proposta de uma nova associação analítico-comportamental.

O último questionamento proposto vai direto ao ponto sobre o que os analistas do comportamento podem ganhar ou perder com a criação de uma nova associação. O Roosevelt falou em sua entrevista que “do futuro não saberás! Evidentemente, nós que aderimos a esta proposição, acreditamos que fortalecerá, é claro.” Francamente, não vemos como não haveria prejuízos e concorrência por sócios, reconhecimento e verbas para financiamento de seus eventos e projetos. Repetimos aqui o questionamento do Roberto: “Por que não juntarmos as forças de vocês às da comunidade verbal que já nos agrega há 22 anos?”

Prezadíssimos Roosevelt, Martha e Todorov, a ABPMC também entende que a questão da necessidade ou não da certificação do analista do comportamento é um potencial gerador de conflitos e discórdias entre duas associações, pois cada uma delas chamaria para si a responsabilidade por tal tarefa. Começaremos a aprofundar as discussões sobre tal proposta no XXII Encontro e daremos continuidade com a publicação do próximo número do Boletim Contexto que será voltado exclusivamente para discutir a identidade do analista do comportamento frente às diferenças conceituais observadas contemporaneamente. Isto foi acordado com a maioria de nossos conselheiros em janeiro deste ano, como bem sabem. E nesta discussão vocês têm muito a colaborar.

Concluímos afirmando que a atual Diretoria Executiva da ABPMC apresenta, entre as suas propostas de gestão (publicadas no site da associação) a “promoção e discussão sobre novas formas de atuação da ABPMC”. Portanto, sugerimos que novas demandas que envolvam a promoção e o desenvolvimento da Análise do Comportamento no Brasil sejam discutidas, trabalhadas e executadas dentro da ABPMC. Estamos trabalhando duro para apresentar e debater com nossos associados sobre um novo Estatuto para a ABPMC, para avançarmos nos projetos já existentes, além de abordar temas importantes, como a formação em Análise do Comportamento, dentre outros. A estratégia de reedição dos Grupos de Interesse também se propõe a acolher demandas e coordenar ações junto a nossos associados.

Mais que nunca, queremos que as dificuldades do momento atual revertam-se em experiência e aprendizado para a construção de uma ABPMC forte e coesa.

Forte abraço,

 

 

 

 

 

 

Denise de Lima Oliveira Vilas Boas
Vice-presidente

Antonio Maia Olsen do Vale
1º Tesoureiro

Roberto Sousa
2º Tesoureiro

Liana Rosa Elias
1ª Secretária

Germana de Menezes Bezerra
2ª Secretária